A optometria pode ser uma grande mais-valia junto da comunidade desportiva
In OpticaPro edição nº 226, 9 maio 2022
Henrique Nascimento, presidente da União Profissional dos Óticos e Optometristas Portugueses (UPOOP), é, desde o dia 4 de março, doutorado em Visão e Desporto pela Universidade Europeia de Madrid. A ÓpticaPro quis saber as razões que o levaram a apostar nesta formação e conversou com o especialista e investigador em optometria.
Porquê a decisão de fazer o doutoramento?
É uma consequência de tudo o que se vai fazendo ao longo da vida, do que se vai questionando e do que se vai experimentando. Aparece também como um imperativo de quem está de corpo e alma, como eu, desde os anos 80 do século passado, na área do ensino, primeiro através da Escola Portuguesa de Ótica Ocular (EPOO) e mais recentemente do ISEC Lisboa.
Como surgiu o tema Visão e Desporto?
Primeiro, porque sempre fui um apaixonado pelo desporto, depois porque é uma área muito pouco conhecida e explorada pelas ciências da visão. Por último, porque entendo que a optometria pode ser uma grande mais-valia junto da comunidade desportiva elevando os seus níveis de rendimento através da visão.
Pode fazer um resumo do trabalho que foi feito no âmbito do doutoramento?
Em primeiro lugar, compilar muitos dados que estavam dispersos neste âmbito e tentar organizar os princípios e habilidades visuais implicadas na visão desportiva. Analisar e verificar a quantidade de publicações que se têm editado desde a primeira, datada de 1911, e quais os temas e áreas mais publicadas. Analisar de que maneira os canais divulgam notícias sobre publicações nesta área e quem mais divulga esta área da optometria. Por fim, comparar habilidades visuais entre desportistas e não desportistas de algumas disciplinas desportivas.
Que importância teve para si a presença do professor doutor Fernando Carvalho Rodrigues?
Como deve calcular, muitos poucos tiveram e terão a possibilidade de ter a testemunhar, num ato desta natureza um dos mais importantes - senão o mais – cientistas portugueses dos últimos 50 anos. Foi um autêntico privilégio do qual nunca me vou esquecer. Acresce a isto o facto de ter a honra de o ter tido como meu professor e o considerar como a minha principal referencia científica.
Que valências adquiriu com esta formação?
Conhecimento! Obviamente que o título é muito importante, mas a capacidade que se adquire ao nível da investigação científica é a parte mais gratificante de um processo longo como este. Depois, e não menos importante, o reconhecimento dos teus pares, pelo que contribuis para o desenvolvimento da tua atividade, neste caso a optometria.
O que poderá fazer diferente na ótica?
Diferente não será muito. Continuar a fazer o que sempre fiz: investigar, experimentar e questionar para no fim o transmitir a todos os que zelam pela optometria portuguesa e a fazem crescer todos os dias, os optometristas.
É seu objectivo continuar a estudar?
Sem dúvida. Continuar a questionar tudo o que me é apresentado como dado adquirido. Continuar a investigar e abrir portas para os que estão a começar agora, continuar a lecionar optometria e tentar deixar alguns escritos sobre as minhas experiências e sobre questões de optometria em geral, que tanta falta fazem aos nossos alunos. Continuar a investigar esta e outras áreas da optometria que ainda não foram suficientemente aprofundadas.
Sempre quis ser optometrista? Fale-nos um pouco do seu percurso...
Obviamente que até 1975 seria improvável alguém falar de optometria em Portugal, por conseguinte era algo que desconhecia completamente. Nunca soube muito concretamente o que queria ser... do que me lembro mais estava relacionado com belas-artes, pintor, arquiteto, algo nesta área na qual cheguei a estar ligado pelos meus 16 anos, estando a um passo de ingressar em Belas Artes, aos 17. As convulsões pós 25 de Abril mudou tudo e, em vez de ir estudar, quis a minha independência e comecei a trabalhar. Quem primeiro me deu trabalho foi precisamente uma ótica perto da minha casa e tudo começou assim, desde os meus 16 anos até hoje. Mentiria se dissesse que se uma pessoa, muito importante para mim, não me tivesse inscrito e pago o curso de ótico-optometrista da EPOO em 1980 eu estaria aqui a responder a esta entrevista na qualidade em que estou hoje, porque não estaria. Esse curso e a optometria, que eu desconhecia totalmente nessa altura, mudaram a minha vida por completo.