XXVII CIOC: Os novos caminhos para a optometria

IN MILLIONEYES 143, ABRIL DE 2025

XXVII CIOC: Os novos caminhos para a optometria

Com cada vez mais participantes, o congresso realizou-se no Centro Cultural de Belém nos dias 14, 15 3 16 março e apostou, sobretudo, na apresentação de novas oportunidades de parceria com outras profissões nomeadamente na área infantil.

 

Texto: Célia Esteves

Foi para uma sala, quase cheia, que o professor emérito Fernando Carvalho Rodrigues deu início ao XXVII Congresso Internacional de Optometria e Contactologia, convidando os presentes a fazer um minuto de silêncio por todos aqueles que contribuíram para a existência da optometria e dos optometristas em Portugal. A plateia acedeu e fez silêncio de pé. Seguiram-se palmas e Carvalho Rodrigues, como já é tradição, deu início aos trabalhos. Falou de memória, do presente e do futuro. Disse aos congressistas para não se assustarem com a Inteligência Artificial e exaltou a importância do ofício dos optometristas. “Na ótica andamos sempre a resolver problemas para a humanidade”, lembrou o pai do satélite português na sua intervenção intitulada os Ofícios da Ótica e Optometria Para Compreender o Universo aos mais de 250 congressistas inscritos. O encontro anual, desta vez, realizou-se no Centro Cultural de Belém (CCB) e apresentou-se sozinho ― sem o Encontro Internacional de Visão e Desporto. Ao contrário do que tinha acontecido nos dois últimos anos, em que se tinham realizado em simultâneo. “Vai ser para o ano. Vai passar a realizar-se de dois em dois anos. Não sei se será associado ou mesmo independente, provavelmente para o ano já será independente”, explicou à Millioneyes, Henrique Nascimento, presidente da União Profissional dos Ópticos e Optometristas Portugueses (UPOOP). “O problema da independência é que depois limita, porque nem todas as pessoas ou nem todos os Optometristas estão muito interessados na visão desportiva e é sempre um bocadinho difícil fazer um congresso de dois dias só sobre desporto, optometria desportiva. Para o ano, vamos fazer de certeza, um dia será desporto, outro dia será todo o resto eventualmente”, referiu o professor, a quem coube a segunda intervenção do primeiro dia de congresso. A primeiro no encontro, já que foi ao Presidente da UPOOP que coube também a última intervenção antes de se dar por terminada a XXVII edição que decorreu por três dias no CCB. Com o tema Os Caminhos Futuros da Profissão e Óptico-Optometrista m Portugal indo assim ao encontro ao tema do congresso.

 

“Nós não conseguimos nada sem convergir, sem estarmos unidos”

 

“Aqui a ideia foi falar sobre os diferentes caminhos da optometria, tal como aquilo que apresentei. Abrir as portas a novas oportunidades de negócio, porque isso acaba por fazer com que a optometria possa também ser mais reconhecida. Que não seja aquela coisa do optometrista que tira lentes e põe lentes e acabou. No caso da terapia visual, e mesmo no treino visual, estamos a ver que os optometristas, não se interessando por essas áreas que por norma deveriam ser deles, estão a ser desempenhados por pessoas de outras áreas diferentes como treinadores, psicólogos”, explicou Henrique Nacimento abrindo portas, por exemplo, aos optometristas para trabalharem na reabilitação profissional, no treino visual e outras questões que estejam associadas. Na ocasião, falaram-se de novas oportunidades, de novas parcerias “Como podemos colaborar”, foi aliás uma das últimas frases na intervenção do terapeuta ocupacional, João Pedro Simões. “Nós temos que nos abrir, acho que estamos muito fechados. Nesta questão das crianças, por exemplo, que têm dificuldades e aprendizagem, nós podemos ajudar. Assim como com crianças com doenças raras que têm grandes problemas de visão e que não têm profissionais para os acompanhar e ajudar. Tal como no desporto”, salientou Henrique Nascimento, apontando que esse trabalho pode começar logo na formação e nas pós-graduações que existem na área. “Temos de dar alicerces, confiança às pessoas para alinharem nisso”, disse lembrando a intervenção de João Pedro Simões. “Ouvi o terapeuta ocupacional dizer que ele próprio se vê obrigado a fazer exercícios visuais, porque não tem ninguém que faça e muitas vezes nem sabe o quilo que está a fazer”, recordou o presidente da UPOOP, que em breve votará a eleições.

 

A UNIÃO DE TODOS OS OPTOMETRISTAS

“Desta vez estamos no CCB, andamos sempre a tentar ter espaços um bocadinho maiores e a ter mais participação e mais diversidade de participantes esse é o objetivo. Temos vindo sempre a crescer”, assinala Henrique Nascimento á Millioneyes, confiante no futuro dos optometristas. “Quero que ele seja risonho, farei da minha parte o possível para que isso aconteça, agora não sei se vou ter sucesso, até porque esse futuro tem de passar por convergências”, assegurou satisfeito com os oradores presentes em três dias de encontro e partilha com diferentes temas onde as crianças, a miopia e o desporto estiveram em destaque.

“Este congresso para nós tem um significado muito importante, porque temos mais alunos da Universidade da Beira Interior, temos professores da Universidade do Minho a virem fazer palestras e isso enche-me de satisfação. Quero é que as pessoas convirjam e não que se olhem de lado. Todos nós temos os nossos telhadinhos de vidro, ou seja, não há ninguém perfeito. Somos altamente imperfeitos, eu sou, mas os outros também são”, disse lembrando divergências entre a classe, nomeadamente pela existência de duas associações que representam os optometristas. Cada vez mais convencido de que a regulamentação da profissão está para chegar, Henrique Nascimento explicou à Millioneyes, à margem do congresso, que se voltará a candidatar à presidência da UPOOP. “As forças dizem que não querem que eu saia, mas se houver juventude também tem que se dar o lugar. Se a vontade das pessoas que estão comigo e dos meus associados for para que continue, poderei fazer mais um pequeno esforço, porque era um grande objetivo meu que se conseguisse a regulamentação. No dia a seguir àquele em que se conseguir a regulamentação eu saio. No dia a seguir demito-me. Fica prometido, portanto espero que nos próximos três anos, se eu ficar, aconteça isso”. Revelou à margem do evento. E para isso espera uma união. “Nós não conseguimos nada sem convergir, sem estarmos unidos. Temos visto isso mesmo na Assembleia da República ― este ano já lá fui quatro ou cinco vezes. Aquilo que nos dizem sempre é que nós não nos entendemos e por isso não conseguem fazer nada”, explica e diz-se disposto a reunir. “A minha esperança é que, num futuro próximo, isso comece a ser possível. Não estou a dizer com isto, que a partir de agora vai ser tudo maravilhoso, porque não vai, mas pelo menos que as pessoas falem umas com as outras”, pede o presidente da UPOOP.

 

 
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